segunda-feira, 16 de abril de 2007

Iogurtes

Tudo começa numa simples ida a esse grande supermercado, o rei das marcas estrangeiras, que nos safa a todos naqueles dias menos abastados que antecedem o final do mês, ou nos alivia o mês inteiro, dependendo das bolsas...
Iogurtes do Lidl. Por mais frutas de aspecto pueril que tenham desenhadas no rótulo em línguas estranhas, a especificar o sabor do iogurte (normalmente uma daquelas frutas que adivinha problemas quando misturada com leite, como a laranja ou a uva), sabemos sempre que nunca vai saber a isso, mas sim a
outra fruta qualquer.E se ainda possuir qualquer outra propriedade
organoléptica semelhante ao verdadeiro iogurte é mera coincidência. Se for
de pedaços, faz-nos empurrar a língua contra o céu da boca enquanto nos
perguntamos, de sobrolho franzido, se não nos teremos enganado e trazido os
de aromas, uma vez que os pedaços não existem.Por sua vez os de aromas, por
motivos a mim alheios e que faço questão que assim o permaneçam, trazem
sempre pedaços, deixando uma porta sombriamente aberta para que imaginemos o
que serão, enquanto pedimos aos santinhos para termos mesmo trazido os de
pedaços. No entanto, sabendo a priori deste segredo, sempre que passamos em
frente ao frigorífico (que me lembra sempre uma imagem obtida dos livros de Harry Potter) repleto de todos aqueles produtos com marcas do "Além", não resistimos, e lá levamos em braços (para poupar dinheiro nos sacos) os místicos iogurtes.
Começo a desconfiar que lhes metam qualquer coisa. Trago sempre um para o lanche que
só depois de umas valentes "palmadas de fome" consigo comer até meio, no
máximo. No entanto já consigo abandonar o do pequeno- almoço à mercê do clima quente da cozinha, na esperança que azede. O que acontece com estes iogurtes malvados é curioso, mas também se verifica com as pessoas... Parece que andamos numa de "low budget" para tudo, até para com as pessoas que escolhemos para ter ao nosso lado.
O rótulo é simples, fácil de ler. Por norma, diferente, coisa que o povinho
gosta. Cores vivas e a embalagem, por metade do preço (já nem precisava
dizer mais nada) traz o dobro da quantidade! Até dá para levarmos mais
que o normal, resolvendo assim o orçamento de lacticínios mensal com aquela
sensação óptima de "fogo, sou mesmo espertalhão!". O giro é em casa...
Logo à primeira colherada consciente despertam-se sensações traduzidas em "Foda-se! Onde é que eu tinha a cabeça
quando trouxe isto para casa?"sempre plenas de arrependimento.À medida que a colher retorna cheia à boca, o nosso paladar começa a soltar queixumes como "Espero que acabe depressa...Porra, se comer outra coisa até digo que é mentira!", "falta muito para chegar ao fim????é que sabes mesmo mal". Finalmente, quase com o fundo do copinho à vista, já não se suporta a permuta entre pedaços
aromas dos supostos copinhos que lhes competiam e já se diz em voz alta (no máximo com o
gato presente) "Vou mas é comer outra coisa qualquer; só hoje não faz mal...". Depois do copo maléfico adormecer saciado em pleno caixote do lixo não se evita a frase : "Não era nada disto que eu queria!!" Os mais ressabiados com a sua
própria pessoa ao aperceberem-se de tal compra ousam mesmo pensar roubar o Iogurte do colega lá no escritório, ou da melhor amiga, chegando nos piores casos, a vias de facto. São sempre de uma boa marca à qual os donos se fidelizaram há imenso tempo, portanto, garantidamente boa. Só um dia. Nem vão dar por falta. Um dia por semana. Uma semana por mês, quem sabe?
Como não há mal que nunca acabe nem bem que sempre dure, os iogurtes estão quase no fim, tal como um grupo restrito de coisas que tanto nos acalmam a "fúria das papilas gostativas" (vulgo: carências) sujeitas a uma provação diária. Não se pode deixar acabar, porque faz bem à saúde, tem cálcio, alimenta, até é barato, os putos comem ao lanche sem chatice, tem que se comprar mais. Mas "desta vez já não compro os
do Lidl! Nunca mais! Cada vez que me lembro...". Infelizmente, como
há coisas que tanto faz serem do Lidl como do Pingo Doce (tipo os pápeis que limpam as entradas e saídas do Iogurte
protagonista) lá se vai num "pulinho" ao Lidl. E zás! Como se de um número
do Professor Alexandrino se tratasse, lá vamos nós, não firmes e hirtos como
uma barra de ferro mas quase tão inanimados como uma, em direcção ao
frigorífico desorganizado onde estão os "danados", normalmente a monte com o "queso fundido" asseguradamente português, o "jambón" envolto numa gelatina útil para substituir o gel de cabelo, o "enchido de suínos", a "margarina para barrar" (tento sempre convencer-me que ninguém se atreve a barrar aquilo no pão), entre
outras sósias de alimentos por norma banais. No final da voltinha, quando damos por nós, a coisa que mais peso faz nos braços já não são os 32 rolos de papel higiénico em promoção, mas sim um
lote de iogurtes redondinhos, resplandecentes de malvadez. 8 de uva, 8 de melancia, e um novo sabor, de melão; Descargo de consciência, quem sabe.





2 comentários:

Anônimo disse...

Brrrrrrr....!!!
Tanto iogurte...! Antes quero o papel higiénico..p'lo sim p'lo não sempre são absorventes para o caso de algum frequentador do Lidl passar pela nossa casa ...(a rir ,mas arrepiada)
Vmc

Anônimo disse...

o teu iogurte azedou nao foi?...cof cof cof...
poe as alentejanices aqui paaaaaa